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"O Vento Será Tua Herança" (1960), a fé contra a ciência



A ciência e a tecnologia têm estado cada vez mais presente no nosso dia a dia. Com o passar do tempo o ser humano se tornou cada vez mais curioso sobre como tudo funciona, em achar explicação para tudo que existe. Mas, muitas vezes, essa busca por explicação pode entrar em conflito com a religião e as crenças. Por isso, ao longo da história do mundo, conflitos existem entre os que acreditam no que a bíblia diz, e outros que acreditam somente no que a ciência mostra. O filme “O Vento Será Tua Herança” (1960) é uma parábola baseada em um caso real que mostra um confronto no tribunal entre a ciência e a religião.

O professor de ciências Bert (Dick York) é acusado de cometer um crime em uma
cidadezinha pequena. O lugar é regido por leis exclusivas, incluindo uma que proíbe o ensino de algo que possa contradizer o que está na bíblia, no caso do filme, a teoria da evolução. Há um grande conflito porque Rachel (Donna Anderson), a namorada do professor é filha do Reverendo Brown (Claude Akins). Rachel fica entre seu pai e seu namorado, ela pede que Bert diga que foi um engano, mas ele diz que não pode deixar que os outros “ aprisionem sua mente” em troca da liberdade do seu corpo.

A cidade inteira vê o professor como uma aberração, é possível até imaginar a população correndo atrás dele com tochas de fogo como se fosse o filme de Frankenstein (1931). Todos olham para Bert como se ele tivesse blasfemado e não acreditasse mais em Deus. Mas é bem interessante que Bert pensa diferente, ele não acredita que a evolução negue o milagre da criação, mas que explica de certa forma como ele aconteceu. Algo que não levou apenas sete dias, demorou mais tempo para se concretizar. Drummond (Spencer Tracy), o advogado de Bert, diz em determinado momento que é impossível ter certeza de quanto tempo durava um dia, o sol não existia no começo, então como ter certeza de que um dia não poderia ser milhares de anos e que talvez o que Darwin disse não contraria a bíblia?

O filme não é contra a religião, mas contra o fanatismo e a favor da liberdade de opinião. Drummond diz que a intenção dele não é mudar a opinião das pessoas que moram na cidade, mas de dar a liberdade para que cada uma escolha o que quer pensar. É importante ressaltar que a liberdade de pensamento é uma via de mão dupla, assim como é importante aceitar as pessoas que não acreditam na religião, também é errado querer obrigar alguém a abandonar o que acredita.

O nome do filme é inspirado em um versículo da bíblia, Provérbios 11:29: “Quem causa problemas à sua família herdará somente vento;”.  Essa explicação é trazida à tona quando o reverendo amaldiçoa sua própria filha por ficar do lado do professor. O discurso do reverendo é assustador, vingativo. Brady (Fredric March), o político, lembra a todos que Deus perdoa os que pecam, ou seja, o discurso não está representando a vontade de Deus, mas sim um homem cheio de ódio.


O filme é uma boa oportunidade para ver um jovem Dick York (mais tarde ficaria famoso por representar o marido da Samantha na série “A Feiticeira”), um Gene Kelly mais irônico do que nunca e fora da pista de dança e dois atores veteranos, Spencer Tracy e Fredric March com suas ótimas atuações.

Brady e Drummond são velhos amigos, o que provoca situações interessantes. Em uma cena na varanda, os dois relembram como as coisas eram quando ambos eram mais jovens. Sentados em cadeiras de balanço, e enquanto conversam sobre sua divergência de ideias, os dois balançam a cadeiras em direções contrárias, mostrando visualmente suas mentes indo por caminhos opostos.

Nesse filme o que é julgado não é a fé contra a razão, qual dos dois é o certo de se pensar, mas sim o direito de se pensar. Ele quer abrir a possibilidade de que uma pessoa pode seguir a religião, a ciência ou até os dois! Mas o filme não é perfeito, apesar de ótimas atuações e uma história rica, o filme poderia ter economizado um pouco nas cenas de tribunal, em alguns momentos é cansativo ver tantas brigas e confusões que acontecem durante o julgamento. O filme representa as pessoas religiosas como monstros, mas a ideia (só para lembrar) é ir contra o fanatismo e a violência que uma pessoa pode ter ao tentar punir o que pensa diferente, não necessariamente condena a todos que tem uma religião.
No final Drummond pega o livro de Darwin, pega a bíblia, e carrega os dois livros juntos, o que nos lembra a ideia de que os dois podem andar juntos. Para que escolher um se posso escolher os dois? É um filme imperdível sobre a liberdade de opinião.

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