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O Artista (2011)


Os filmes mudos são uma das coisas mais lindas do cinema. Nada contra o cinema falado, mas o cinema é arte, está aí para mais mostrar do que falar. Hitchcock sempre dizia que uma imagem fica mais gravada na mente de quem assiste do que algo dito, prova disso foi o diretor ter usado muito mais “mostrar” em seus filmes, mas não estamos aqui pra falar de Hitchcock, ou estamos?

Bem, não exatamente. Vamos lá! O Artista é simplesmente um clássico com cara de clássico que homenageia os clássicos. Nele é usada a forma mais simples de cinema, montagens, íris abrindo e fechando a imagem e enquadramentos simples, mas é exatamente isso que o torna excepcional, as vezes é bom relembrar suas origens, afinal o cinema tem ficado cada vez mais apelativo.

Vamos a sinopse: Duas pessoas apaixonadas, George Valentim (Jean Dujardin), o ator mais famoso do momento e Peppy Miller (Berènice Bejo), uma desconhecida que sonha e ser uma grande atriz. O caminho dos dois depois de se cruzar acaba percorrendo sentidos contrários, ela a ascensão e ele a decadência. O filme mostra como foi cruel para os grandes artistas do cinema mudo que não conseguiram se adaptar a chegada do cinema falado.

Outro filme que também fala sobre esse período é o musical clássico “Cantando na Chuva” (1952), onde um ator (Gene Kelly) sofre por não conseguir se adaptar enquanto uma jovem (Debbie Reynolds) diz que cinema mudo é um monte de caretas, mesma coisa que Peppy diz.


O Artista é cheio de homenagens. Primeiro à Hitchcock (por isso desandei a falar dele no começo), que foi um dos primeiros a mexer com o tema de agentes secretos e filmes policiais (vide “Blackmail”; “O homem que sabia demais”, as duas versões; “39 degraus” e “Intriga Internacional”), além do fato que quase me fez cair da cadeira: uma cena muito importante ao som da música de Bernard Herrmann (compositor favorito de Hitch), a música é nada mais nada menos que da trilha sonora de “Um corpo que cai” (1958),  uma das obras primas de Hitchcock. Também tem outra referencia a outro grande diretor: Orson Welles. A cena do café da manhã em que mostra o distanciamento do marido e da mulher em Cidadão Kane é muita parecida com a cena de distanciamento de George e sua esposa em O Artista.



A arte de contar a história visualmente foi usada brilhantemente aqui. Parece que cada objeto, cartaz, tudo foi usado pensando na cena. A dança no começo do filme, quando sem saber quem está atrás do cenário falso George dança com Peppy já é uma dica de como vai ser a solução do problema. Quando George caminha pela rua, triste e cabisbaixo, o nome de um filme em cartaz atrás dele é “The Lonely Star” (a estrela solitária) e  Peppy, que cuida  dele as escondidas, logo estreia um filme chamado “Guardian Angel” (anjo da guarda). Logo ao ser dispensado por ser um “ator mudo” George reencontra nas escadas Peppy, agora já estrela, mas ela está subindo as escadas enquanto ele está descendo, simbolizando como estava a vida dos dois. A cena em que estreia o filme dele e é um fracasso vemos exatamente a parte sendo projetado em que George se afunda na areia movediça, da mesma forma que ele estava se afundando.


Tudo está relacionado a fala, e a palavra silêncio vira algo aterrorizante. Logo no começo do filme quando nos deparamos com a sala de cinema e as primeiras cenas, aparece escrito: “Não vou falar! Nem uma palavra!”. Depois George tem um pesadelo onde tudo tem som, até o cachorro late, mas ele não consegue falar. A esposa de George briga com ele e pergunta: “Por que você se recusa a falar comigo?”. Sem falar no momento final onde ele surta e várias bocas falando e rindo aparecem de uma forma aterrorizadora.

Apesar do orgulho, com a ajuda de quem realmente gosta dele: Peppy, Clifton (o motorista) e o cachorro, George consegue dar a volta por cima e se liberta, no final do filme ouvimos ele falar (duas palavras) e  quando vão repetir o número ouvimos “silêncio no set”, mas para George não haverá mais silêncio.
Para terminar, você pode assistir o filme no Youtube, legendado em português de Portugal: https://www.youtube.com/watch?v=r-Lnzjrkm_o
E para deixar um clima, a linda música reciclada de "Um Corpo que cai".







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