Em 1949, Ida
Lupino dirigiu seu primeiro filme (Not Wanted) meio que por acidente, depois
que o diretor Elmer Clifton teve um ataque cardíaco. Ela não recebeu os
créditos, mas a experiência com certeza fez com que ela percebesse que gostava
da direção. Ainda em 1949, ela dirigiu seu segundo filme (primeiro creditada), “Quem
Ama não Teme”, e depois dele veio “O Mundo é o Culpado”.
O filme
conta a história da bonita e no auge da felicidade, Ann Walton (Mala Powers), ela
trabalha como contabilista e acaba de ficar noiva. Ann constantemente é
assediada pelo dono de uma lanchonete perto de seu trabalho. Em uma noite,
voltando do trabalho, ela é estuprada por esse homem. Sua vida vira um
pesadelo, porque além dos danos psicológicos, ela não consegue voltar a sua
vida normal por causa da maneira que as pessoas a tratam por causa da agressão.
Ela falha ao
tentar voltar ao trabalho, e não consegue continuar com seu noivo Jim (Robert
Clarke), mesmo que ele insista para que os dois se casem e esqueçam o ocorrido.
Ann acaba fugindo, ela vaga pela estrada e acaba torcendo o pé. De tão cansada
ela praticamente desmaia e é encontrada pelo reverendo Bruce (Tod Andrews), que
a leva para a casa de uma família que a abriga. O reverendo vai tentando saber
mais sobre o passado da garota misteriosa e tentar ajudá-la a se recuperar.
Uma das
coisas que achei mais notável nesse filme foi a edição de som. Na cena do
estupro (feita de maneira subjetiva) temos o barulho alto e irritante de uma
buzina que não para de tocar (coisa que a diretora usaria em seu outro filme “O Mundo Odeia-me”). Quando Ann tenta voltar ao trabalho, o barulho do carimbo
vira um tipo de martelo que vai ficando cada vez mais alto e rápido, se juntando ao bater de unhas na mesa, que nos leva para dentro do terror e confusão
mental que ela está passando.
O filme
procura fazer uma crítica social as pessoas violentas que são presas, mas não vistas
como doentes, e depois são soltos de volta nas ruas e cometem mais atos de
violência. O pai de Ann ainda diz: “Para que amamos e nos sacrificamos por
nossas filhas? Para que as criamos? Pra um cara vir e fazer isso com elas?”
(parafraseando).
“O Mundo é o
Culpado” trata de um assunto delicado em um momento em que não era visto com frequência.
Depois de 67 anos, o filme continua bem atual. Ainda hoje as mulheres são
assediadas e estupradas, com a sociedade colocando a culpa na vítima em vez de
entender o perigo ao redor. O argumento de que a mulher é quem provoca o agressor só reforça a
ideia de que o homem pouco tem evoluído por dentro, pode construir uma nave e
voar até a lua, mas não pode controlar a si mesmo. Veja o filme online: https://archive.org/details/OMundoEOCulpado1950Leg,
e pense mais sobre o assunto.
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