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Uma Galinha ao Vento (1948), Yasujiro Ozu



Um ano antes de fazer uma de suas obras-primas "Pai e Filha" (1949), o diretor japonês Yasujiro Ozu fez um filme delicado e de tema controverso. O chamado "Uma Galinha ao Vento" é brilhante e deve ser mais divulgado.


Antes de qualquer coisa é interessante falar um pouco sobre as características de Ozu. Para quem nunca ouviu falar, Ozu é considerado um dos melhores diretores do Japão das décadas de 50 e 60, junto com outros dois grandes: Mizoguchi e Kurasawa. Mais do que isso, Ozu é considerado o diretor japonês mais japonês de todos os outros, a razão é simples, sua maneira delicada, contemplativa e com simplicidade de contar histórias e situação extremamente complicadas e sempre no âmbito familiar. O diretor usava ainda pouquíssimos movimentos de câmera e câmera baixa, da altura de alguém sentado no tatame. Essas são algumas das características que o fez um diretor com seu próprio estilo de contar as histórias.


“Uma Galinha ao Vento” conta a história de uma mulher chamada Tokiko que vive na miséria com seu filho pequeno, seu marido Shuichi está na guerra e ela está completamente desamparada em sua situação financeira. Quando o filho dela fica doente, para conseguir pagar o tratamento ela acaba se prostituindo por uma noite. Um mês depois o marido chega e ela conta o que teve que fazer para pagar as despesas médicas do filho, o Shuichi por sua vez fica chocado com a ação de sua esposa e o casamento dos dois vai se complicando cada vez mais.

Nesse filme já vemos as várias características do diretor, a câmera baixa, cenas contemplativas da natureza e o subjetivo, ou seja, cenas simbólicas, que representam ações que não mostradas na tela. Não vemos a mulher se prostituir, só vemos um quarto da casa de prostituição, assim como em “Pai e Filha” não vemos o casamento, só o lado de fora de uma igreja decorada.


 
Nesse paragrafo vou comentar partes importantes do filme, mas que podem conter SPOILER, por isso, se não quiser saber pule para o próximo parágrafo. O filme desenvolve de maneira incrível o sentimento de Tokiko e de seu marido, mas escorrega um pouco no final, com a aceitação do marido pelo que sua esposa teve que fazer. Shuichi vai até o lugar onde sua esposa se prostituiu e lá encontra uma moça bem jovem. Conversando com ela, ele percebe seus motivos e depois ainda arranja emprego para ela. Mais tarde seu amigo fala sobre a ironia da situação, ele perdoou uma desconhecida e não perdoava sua própria mulher. O filme só peca mesmo no final, em uma briga o marido a agride Tokiko e ela cai da escada, ele não a ajuda a levantar, só de longe pergunta se ela está bem. Mancando com dificuldade ela sobe e continua a pedir desculpas pelo que fez e se humilhando cada vez mais, o marido finalmente diz que entende o que ela fez e que a perdoa. Apesar da crítica a guerra e a miséria, o filme acaba indo para um final mais confortante, em que tudo fica bem e a mulher alcança perdão do marido depois de muitas “penitências”.





Apesar de pecar em alguns momentos, o filme acerta em muita coisa e nos transporta para uma história cheia de conflitos e dificuldades, onde ficamos nos perguntando se a personagem poderia ter evitado a situação ou era uma daquelas coisas que acabou sendo inevitável para ela por causa do desespero das circunstâncias...Uma obra imperdível!



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