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Marnie: Confissões de uma Ladra (1964)



O 49° filme de Alfred Hitchcock divide opiniões: alguns acreditam ser seu último filme bom, outros acreditam que é o primeiro filme de sua série de últimos filmes ruins. Hitchcock começou no cinema mudo, foi o primeiro diretor a fazer um filme falado na Inglaterra (“Blackmail” em 1929) e quando chegou ao cinema em cores, as utilizou a seu favor, dando grande significado (por exemplo “Vertigo” de  1958). Mas nos anos 60 os filmes começaram a mudar, tiveram que “modernizar”. A vinda da televisão fez com que as pessoas vissem muitos lugares reais, o que tornava mais difícil enganar alguém que ao chegar ao cinema se deparava com uma rua falsa, feita em um cenário.
A história, baseada no livro “Marnie” de Winston Graham, fala sobre Marnie Edgar (Tippi Hedren) que usa de seu charme e beleza para conseguir empregos e ganhar confiança enquanto planeja e rouba esses lugares. Mas ela não podia esperar que Mark (Sean Connery), o dono da empresa que ela pretende roubar descobre quem ela é.



Hitchcock comprou os direitos da história pretendendo trazer através dela sua amada Grace Kelly ao cinema. Mas as coisas não foram como planejado. Apesar de ter se empolgado com a volta, Grace Kelly acabou voltando atrás por causa de problemas políticos. Então o projeto foi engavetado e Hitchcock seguiu em frente. Ele descobriu em um comercial a então modelo Tippi Hedren, a qual contratou e tornou a estrela do seu próximo filme: “Os pássaros” (1963). Depois ele resolveu que ela poderia fazer o papel de Marnie.
O tema “Obsessão” foi muito presente na obra do diretor. Vemos isso em filmes, como: “Vertigo” e “Psicose”, e não é diferente em “Marnie”. Encontramos um homem atraído por uma mulher pelo fato dela ser uma ladra, tema já utilizado mais sutilmente em “Ladrão de Casaca” onde Grace Kelly se sente atraída por Cary Grant pela possibilidade dele ser o gatuno.
O roteiro trouxe problemas, mais especificamente a cena de “estupro”. Evan Hunter foi demitido por ser contra essa cena, ele argumentou que :
 “o público perderia a simpatia pelo ator principal se estuprasse a própria mulher na lua de mel.”
(tirado do Livro “Fascinado pela Beleza” de Donald Spoto).

Então Jay Presson Allen foi contratada, para ela não tinha problema nenhum aquela cena, ela não considerava uma cena de estupro, mas sim de uma situação doméstica complicada.
Mas o tema de obsessão também veio dos bastidores, Hitchcock estava obcecado por sua atriz principal. Como Tippi não correspondia ele a deixou de castigo. Eles tinha um contrato que durava sete anos, e depois de Marnie, Hitchcock simplesmente não a colocou em nenhum filme e nem deixou que ela fizesse com outro. Muitos diretores quiseram que ela trabalhasse para eles, mas Hitchcock sempre recusava. Até que finalmente ele deixou que ela fizesse um filme com Charlie Chaplin: “A Condessa de Hong Kong”.
A ideia de Cinema de Hitchcock era falar de menos e mostrar mais. Ele sempre gostou de introduzir cenas em que as pessoas falam coisas sem importância nenhuma enquanto mostra algo completamente diferente. O uso da cor vermelha para trazer a tona as crises de Marnie foi um ótimo recurso visual para introduzir o trauma de infância que mais tarde descobrimos. A cena do roubo é o puro suspense de Hitchcock. Para diretor, o suspense consiste e mostrar ao público coisas que o personagem ainda não sabe, o que causa sempre apreensão e aquela vontade de entrar no filme para avisar. Quando Marnie está roubando o dinheiro da empresa de Mark, vemos em um único plano ela de um lado e do outro uma empregada limpando o chão, separadas por uma parede. E não para por aí, quando Marnie percebe a presença da mulher ela tira os sapatos, os coloca no bolso e anda na ponta dos pés, o que ela não sabe e que o sapato está...escorregando...escorregando...
Esse filme foi a última contribuição de duas pessoas muito importantes da equipe de Hitchcock: Bernard Herrmann, o compositor que foi demitido por não criar trilha sonoras modernas; e Robert Burks, diretor de fotografia que morreu em um incêndio em sua própria casa. Ambos colaboradores de longa data.

Marnie é na minha opinião uma obra prima do diretor britânico. Não é só um suspense brilhante como um romance de tirar o fôlego. E pra não ficar só nas minhas palavras vou terminar com as palavras do crítico de cinema, Robin Wood : “Se você não gosta de Marnie, você não gosta do Hitchcock de verdade. E vou mais a fundo que isso e digo que de você não ama Marnie, você não ama cinema de verdade.”



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