O 49° filme de Alfred Hitchcock divide opiniões: alguns
acreditam ser seu último filme bom, outros acreditam que é o primeiro filme de
sua série de últimos filmes ruins. Hitchcock começou no cinema mudo, foi o
primeiro diretor a fazer um filme falado na Inglaterra (“Blackmail” em 1929) e
quando chegou ao cinema em cores, as utilizou a seu favor, dando grande
significado (por exemplo “Vertigo” de
1958). Mas nos anos 60 os filmes começaram a mudar, tiveram que “modernizar”.
A vinda da televisão fez com que as pessoas vissem muitos lugares reais, o que
tornava mais difícil enganar alguém que ao chegar ao cinema se deparava com uma
rua falsa, feita em um cenário.
A história, baseada no livro “Marnie” de Winston Graham,
fala sobre Marnie Edgar (Tippi Hedren) que usa de seu charme e beleza para
conseguir empregos e ganhar confiança enquanto planeja e rouba esses lugares.
Mas ela não podia esperar que Mark (Sean Connery), o dono da empresa que ela
pretende roubar descobre quem ela é.
Hitchcock comprou os direitos da história pretendendo trazer
através dela sua amada Grace Kelly ao cinema. Mas as coisas não foram como
planejado. Apesar de ter se empolgado com a volta, Grace Kelly acabou voltando
atrás por causa de problemas políticos. Então o projeto foi engavetado e
Hitchcock seguiu em frente. Ele descobriu em um comercial a então modelo Tippi
Hedren, a qual contratou e tornou a estrela do seu próximo filme: “Os pássaros”
(1963). Depois ele resolveu que ela poderia fazer o papel de Marnie.
O tema “Obsessão” foi muito presente na obra do diretor.
Vemos isso em filmes, como: “Vertigo” e “Psicose”, e não é diferente em “Marnie”.
Encontramos um homem atraído por uma mulher pelo fato dela ser uma ladra, tema
já utilizado mais sutilmente em “Ladrão de Casaca” onde Grace Kelly se sente
atraída por Cary Grant pela possibilidade dele ser o gatuno.
O roteiro trouxe problemas, mais especificamente a cena de “estupro”.
Evan Hunter foi demitido por ser contra essa cena, ele argumentou que :
“o público perderia a
simpatia pelo ator principal se estuprasse a própria mulher na lua de mel.”
(tirado do Livro “Fascinado pela Beleza” de Donald Spoto).
Então Jay Presson Allen foi contratada, para ela não tinha
problema nenhum aquela cena, ela não considerava uma cena de estupro, mas sim
de uma situação doméstica complicada.
Mas o tema de obsessão também veio dos bastidores, Hitchcock
estava obcecado por sua atriz principal. Como Tippi não correspondia ele a
deixou de castigo. Eles tinha um contrato que durava sete anos, e depois de
Marnie, Hitchcock simplesmente não a colocou em nenhum filme e nem deixou que
ela fizesse com outro. Muitos diretores quiseram que ela trabalhasse para eles, mas
Hitchcock sempre recusava. Até que finalmente ele deixou que ela fizesse um
filme com Charlie Chaplin: “A Condessa de Hong Kong”.
A ideia de Cinema de Hitchcock era falar de menos e mostrar
mais. Ele sempre gostou de introduzir cenas em que as pessoas falam coisas sem importância
nenhuma enquanto mostra algo completamente diferente. O uso da cor vermelha
para trazer a tona as crises de Marnie foi um ótimo recurso visual para
introduzir o trauma de infância que mais tarde descobrimos. A cena do roubo é o
puro suspense de Hitchcock. Para diretor, o suspense consiste e mostrar ao
público coisas que o personagem ainda não sabe, o que causa sempre apreensão e
aquela vontade de entrar no filme para avisar. Quando Marnie está roubando o
dinheiro da empresa de Mark, vemos em um único plano ela de um lado e do outro
uma empregada limpando o chão, separadas por uma parede. E não para por aí,
quando Marnie percebe a presença da mulher ela tira os sapatos, os coloca no
bolso e anda na ponta dos pés, o que ela não sabe e que o sapato
está...escorregando...escorregando...
Esse filme foi a última contribuição de duas pessoas muito
importantes da equipe de Hitchcock: Bernard Herrmann, o compositor que foi
demitido por não criar trilha sonoras modernas; e Robert Burks, diretor de
fotografia que morreu em um incêndio em sua própria casa. Ambos colaboradores
de longa data.
Marnie é na minha opinião uma obra prima do diretor
britânico. Não é só um suspense brilhante como um romance de tirar o fôlego. E
pra não ficar só nas minhas palavras vou terminar com as palavras do crítico de
cinema, Robin Wood : “Se você não gosta de Marnie, você não gosta do Hitchcock
de verdade. E vou mais a fundo que isso e digo que de você não ama Marnie, você
não ama cinema de verdade.”
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